Questões sobre o método socrático de diálogo
Laques — Isso, por Zeus, não é difícil de explicar. Como sabes, homem de coragem é o que se decide a não abandonar o seu posto no campo de batalha, a fazer face ao inimigo e a não fugir.
Sócrates — Muito bem, Laques. Mas talvez eu não tenha me expressado com muita clareza, pois não respondeu ao que eu tinha intenção de perguntar, porém outra coisa.
Laques — Como assim, Sócrates?
Sócrates — Vou te explicar. Conforme disse, o indivíduo corajoso é o que se mantém no seu posto e luta com o inimigo?
Laques — Foi o que eu disse, de fato.
Sócrates — Mas o que diríamos ao indivíduo que, sem ficar no seu posto, combate com o inimigo, fugindo?
Laques — Como? Fugindo?
Sócrates — Como dos citas se relata, que combatem quando fogem do inimigo tanto quando os perseguem. Homero, também, elogia os cavalos de Enéias, que tão rápidos correm, diz ele, quer quando fogem, quer no encalço do inimigo ligeiro.
Laques — E com toda a razão, Sócrates, pois referia-se a carros de combate, tal como o fizeste a respeito da cavalaria cita; pois é assim, de fato, que os cavaleiros citas combatem, enquanto a infantaria helênica o faz da maneira que eu disse.
Críton — Então me diz o que pensa sobre o que falei anteriormente, se concorda ou não que há boas razões para sua fuga.
Sócrates — Bem, pensa o seguinte. Eu não estaria destruindo a cidade ao fugir? Pois como uma cidade continuaria existindo se as sentenças anunciadas nos tribunais pudessem violadas por qualquer pessoa?
Críton — Parece ter razão nesse ponto, Sócrates.
Sócrates — E também penso mais. Olha só. Não devemos tentar acabar com as leis só porque pensamos sofrer uma injustiça. É nosso dever obedecer todas as leis, em qualquer situação, ou tentar mudá-las por meio do processo legal. Pois qualquer pessoa pode ser contra as leis e propor que elas sejam alteradas.
Críton — Não tenho como discordar do que diz, Sócrates.
Sócrates — Me ocorre ainda outro ponto, Críton. Devemos obediência às leis de nossa cidade porque foi, de certa forma, ela que nos educou, nos alimentou, proporcionou uma série de benefícios, como a segurança. Além disso, caso a pessoa não goste da cidade, pode, a qualquer momento, deixá—la e ir viver em outra, onde lhe agrade. Se a pessoa não vai embora, temos que concluir que, implicitamente, ela concorda e aceita as leis existentes e aceita cumprí-las. Então, não devo, agora que me prejudicaram, discordar do que até hoje concordei. Porque sempre gostei da cidade de Atenas e nunca pensei em ir embora. O que pensa Críton, poderia discordar disso?
Críton — Não, Sócrates.